O Skinão Fechado

12 de maio de 2012
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Texto e fotos por Laís Semis

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Um vento leste bate por mim quando coloco a cabeça pra fora do Jack pra ver a Duque madrugar a espera de um táxi. Não sei que horas são, mas o vento leste me diz que é hora de ir pra casa. 

Hoje não tem fila pra pagar. Algumas pessoas ensaiam sair, arquitetando os planos de amanhã - a apenas 3 ou 4 horas daqui, enquanto outras planejam a próxima parada (porque as noites de quintas-feiras comuns só terminam quando vem o fim de semana) e outras projetam seus sonhos nessa noite. Os de travesseiro e os de olhos abertos.

Meia dúzia de aplausos. Fomos embora os que não vieram. A festa não acaba nunca. É daqui pra outra e outra e... 



Quando eles vão parar com isso? Me pergunta a menina com fita vermelha cortando a cabeça como o Equador corta o mundo. Aquelas guitarras distorceram o tempo de sua noção. Se eles tivessem ficado ali por 3 minutos ou meia hora, jamais saberíamos dizer. Talvez as Nuvens Invisíveis soubessem, talvez até eles mesmos tenham se permitido se perder entre tantas distorções.

Quando a dúzia presente ficou surda, eles não pararam. Já não eram mais as mãos que tocavam as guitarras. As laterais do palco e o chão tocavam pelos Invisíveis. E o resultado feria alguns ouvidos, incomodava todos os pensamentos até já não ser mais suportável por uma parte das pessoas. As Nuvens Invisíveis anunciam a última da noite.

Um show meio psicodélico que acabou coincidindo exatamente com a necessidade. Uma boa dose instrumental que os tirasse dali. Foi de outro mundo. 

Não importa pra quantas pessoas você toca, você tem que tocar o seu melhor. E, embora eu nunca tenha visto as Nuvens Invisíveis em outras situações, o estusiasmo e a energia com que tocaram transformaram o ambiente. Mas, se ainda assim, isso que aconteceu aqui não foi nada perto do que eles podem fazer, eu quero ver de novo.

Formada em 2010, em Campinas, “Nuvens Invisíveis” era conhecida até o ano passado como “Priya’s Journey”. “Uma banda sobre o universo, o horizonte e o destino” é a auto-intitulação. 

Baladinha anos 80 e alguns outros sucessos hypados viram na discotecagem da troca de palcos. A gente não sabe o que vem por aí.



Não é todo mundo que vai gostar, o som vem carregado, as letras são políticas, tem história e não é pra sair por aí saltitando dançantemente enquanto eles estão no palco. A Universo Elegante lançou, há cerca de um mês, o seu primeiro álbum, obra intitulada “Era dos Extremos

As músicas não poetizam ruas longínquas em cidades estranhas, histórias improváveis, super-personagens e realidades desconhecidas a serem desbravadas. É um disco que traz uma realidade facilmente identificada pelos bauruenses (“hoje é terça-feira, o Skinão fechado, dia de mesmice”, “eu não vejo nada, desde a Duque - esta mesma em que nos encontramos - até o B.B.Batatas que possa me fazer sentimental” ou “tenho pensado enquanto ando por Bauru, eu sou uma espécie de Senhor Blue”). 

Braços inquietos, olhos fechados. Como quem se debate por dentro e não pode se afastar do microfone estacionado no meio do palco, o vocalista Luís Paulo Césari Domingues garante uma presença de palco procurando extravasar uma busca pela liberdade do corpo para se desfazer pelo universo.

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