Entrevista Siba: A reconstrução de um artista

25 de junho de 2012
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Por Felipe Vaitsman
Fotos: Amanda Melo

Quando abordei Siba Veloso em sua saída do palco na área de convivência do Sesc Bauru, ele me pediu educadamente para que eu esperasse todos os fãs serem atendidos. Com seu sorriso tímido, distribuiu abraços, autógrafos e simpatia. Foram minutos até que ele se dirigisse a mim. Tinha em mente algumas perguntas e, para descontrair, pretendia chamá-lo de mestre (alcunha dada àqueles que duelam nas sambadas da Zona da Mata). Assim, elevaria o homem ao seu devido posto e me colocaria em meu devido lugar: o de súdito.

Uma pena que o nervosismo deste jovem jornalista tenha feito a “ambientação” ruir. Frente a frente com o artista, só pensei em não tomar muito do seu tempo e saber um pouco mais sobre Avante, seu primeiro disco solo.

O que eu pude observar ouvindo Avante foi uma inovação. Você fez uma coisa diferente do que tinha feito com Mestre Ambrósio e com a Fuloresta, mas sem perder suas características. Esse primeiro trabalho solo é uma desconstrução ou uma reconstrução do Siba?

É um pouco das duas coisas, na verdade. Eu tive que passar por um processo de fragmentação grande, tanto de vida, quanto da concepção do que eu sou como artista. Então tem uma coisa de desconstrução que a vida me forçou. E a partir da desconstrução eu tentei reconstruir uma coisa que fosse coerente comigo mesmo. Por isso é um trabalho que tem menos apego a um formato específico, que por tantos anos eu exercitei e tal. Eu precisava juntar mais elementos da minha formação, da minha história. Tem a desconstrução e tem a reconstrução também, mas, ao mesmo tempo, é a mesma coisa que eu estava fazendo antes: um trabalho baseado na rima. Então no fim, na verdade, o processo foi o mesmo. Teve uma coisa de desconstrução do lado musical e da busca de um novo jeito de escrever, mas no fim das contas o trabalho é o mesmo. É uma reconstrução, um texto que tem um formato musical, que pode ser esse ou pode ser outro.

E a parceria com o [Fernando] Catatau (produtor do disco)? O que ele trouxe das influências dele, das ideias dele? Como isso contribuiu no processo de montagem de Avante?

Na verdade, Catatau foi um interlocutor da minha volta pra guitarra, porque foi um caminho longo pra mim, difícil. Eu tive que me reapropriar de uma cultura de guitarra que eu não tinha mais, porque estava há muito tempo afastado. E ele me ajudou a encurtar o caminho, até por termos uma mesma referência original, gostar da mesma coisa. O ponto de partida é parecido, das sonoridades que a gente gosta. E a partir daí ele foi o cara que ajudou na volta da guitarra, como ajudou a amalgamar o encontro musical, a banda, o que foi feito muito em cima do disco e tal. O processo foi muito solitário. A parte das influências dele foi mais na sonoridade, porque o trabalho musical de concepção foi muito meu mesmo. E a gente tem em comum esse gosto por uma guitarra mais direta, uma guitarra mais crua, mais visceral. Esse tipo de sonoridade tem muito a ver com o maracatu: uma sonoridade direta, cortante, que vem muito da minha escola também. Então a gente tinha isso em comum.

Eu sinto que você usa muito da rabeca na guitarra, na hora de fazer as linhas melódicas. Não sei se é proposital ou se é uma influência que nem percebe. Queria que você comentasse sobre isso, se tem a ver, se não tem.

Não conscientemente. O que tem é que, tanto na guitarra, na rabeca, na viola e em muita música que eu ouço, os instrumentos de corda estão em função da voz. É a coisa de uma harmonia mais direta e de um tipo de jogada de contraponto que eu aprendi muito com a música africana, mas que também tá na música tradicional do Brasil, a música rural, popular. Então tem mais a ver com isso. A rabeca entra num veio muito maior, de um tipo de música que me agrada e que eu sempre pratiquei. Então, claro, vai ter a ver. Minha guitarra tem a ver com a minha rabeca, mas não é exatamente uma influência da rabeca, é a influência de um tipo de jeito de olhar a música que tá em comum.

A capa do disco é uma foto sua com o seu filho e uma guitarra e o nome do disco é Avante. Como você relaciona isso com esse momento da sua vida, musicalmente, e também pessoalmente?

Acho que as coisas estão ligadas. Avante é muito aquela letra ali, que reflete todo o processo de elaboração desse disco, que foi muito sofrido. Porque não foi só um disco, foi a reelaboração de uma pessoa, de um artista também, tudo muito junto. E aí, Avante, aquela letra diz muito do momento em que eu começo a juntar as partes e reencontrar a força motriz de criação, principalmente da poesia, a força que possibilita mover, andar, ir adiante e tal. Então, tem mais a ver com isso, de conseguir se mover novamente. Ao mesmo tempo que tem muito da presença do meu filho no disco inteiro. Um filho é uma continuidade sua. Aquela guitarra foi meu pai que me deu, a primeira guitarra que eu tive. Tem essa coisa da continuidade, de você se ver seguindo mesmo não estando mais vivo um dia, num filho. Tem muito a ver com a energia do disco num todo também. A presença de meu filho tá em tudo ali.

O que você diria pra quem nunca ouviu Avante?

Ah, procura (risos)! Escuta pela internet, vai lá. Se gostar, baixa inteiro, se gostar mais ainda, compra o disco.




  1. Aí Fê!! Parabéns pela matéria. A interaçao entrevistado/entrevitador se dá quando o segundo sabe e conhece o assunto sobre o qual vai perguntar. Quem ganha somos nós, leitores. Mais rica e mais profunda a informação. Quis ouvir imediatamente o som, inspirado nas respostas do artista. Valeu a pena!!!

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